terça-feira, fevereiro 07, 2006

A ler

Embora não concorde com tudo, cá está um excelente texto.


Meus senhores, estamos em guerra
Os europeus, acomodados ao poder protector dos norte-americanos desde a Guerra Fria, ainda não se tinham dado conta da magnitude do perigo iminente que impende sobre as suas cabeças. Esqueceram-se dos 700 anos de lutas na Península, dos corsários sarracenos que ainda no século XIX assolavam as costas do Levante espanhol, chegando tais incursões a Santa Cruz (Cadaval); esqueceram-se das razias na Sicília, das matanças de Rodes e do estupro e degola das religiosas sobre os altares de Santa Sofia, em Constantinopla; esqueceram-se de Mohacs (1526), do cerco a La Valetta (1565), das batalhas de Lepanto (1571) e de Matapan(1716), do cerco a Viena, salva in extremis (1683); haviam-se esquecido do massacre de Chios e do genocídio dos Arménios (1915); haviam relativizado, distanciando as narinas, das práticas correntes de tortura, massacre indiscriminado e purgas que cobrem todo mundo islâmico de cemitérios. Depois do 11 de Setembro, pensou-se que a América "tinha de pagar" e nós, os sempiternos compreensivos, recolheríamos a simpatia dos seguidores do Livro. Pobres tontos, reféns do racionalismo, julgávamos que mesmo um fanático é conversível às subtilezas da faculdade de julgar. Pensávamos que da abastança e seus frutos as trevas da superstição retrocederiam. O sonho acabou. Eles querem destruir aquilo que abominam. O nosso mundo - da liberdade, da democracia, dos direitos do homem [e da mulher], da separação entre o Estado e a religião, da autonomia do saber face à crença, da aceitação, até, ao direito da descrença - é uma soma de anátemas aos olhos de quem se submete a uma revelação que se recusa pensar. Eles são os analfabetos da razão.Aos olhos dessa gente, todos somos alcoólicos, materialistas, debochados e impotentes . Aos olhos dessa gente, as europeias são todas prostitutas. Aos olhos dessa gente, "somos aquilo que comemos" (porcos). A nossa arte, a nossa literatura, a nossa filosofia, as nossas leis são a manifestação da presença do demónio, pelo que devem ser destruídas para glória de Alá. O Ocidente é o grande Pan (pã), produto do Tentador. Fechem-se as bibliotecas, queimem-se as pinacotecas, triture-se a escultura, proiba-se a música, a dança e o desporto.Se para eles acabou o tempo da transigência, para nós ocidentais, herdeiros da Hélade, do Direito, da Revolução Científica e das Luzes, acabou o tempo da relativização. O mundo deles está em agonia. O nosso, supenso no gume de uma lâmina. Quando o Islão desaparecer, a humanidade pouco perderá. Se o Ocidente adulto perecer, voltaremos à condição de crianças aterrorizadas.

[Diogo Duarte Campos]

1 Comments:

At 2:25 da tarde, Blogger Miguel Ferreira said...

caro amigo Paulo peço imensa desculpa, mas esse texto que deixaste na minha modesta opinião e apesar de até concordar com algumas partes, penso que não é claro e pode dar origem a
interpretações perversas.

Ao longo do texto há várias referências a uma entidade abstracta "eles" ou "dessa gente". Pelo conteúdo deduzo que seja em relação a fundamentalistas islâmicos. Se o é está bem fundamentado, se não é direccionado a fundamentalistas islâmicos, mas a islâmicos em geral então é um disparate pegado pois cai na tentação de uma generalização que à luz dos recentes acontecimentos é muito fácil e tentadora de fazer mas é errada. Existem no mundo islâmico dois blocos, duas correntes- uma moderada e outra fundamentalista. A corrente fundamentalista infelizmente tem vindo a minar o mundo com a sua propaganda anti-liberal, anti-Israel,anti-Ocidente e com recorrência cada vez maior à violência. O mundo Ocidental tem a obrigação de não ceder a estes fundamentalistas, mas temos também a obrigação de saber separar o trigo do joio, ou seja, de saber distinguir moderados dos fundamentalistas, de condenar fundamentalistas e apoiar moderados.

É bom que nós enquanto Ocidentais tenhamos bem a noção que a chafurdice que é o Médio-Oriente hoje em dia é responsabilidade nossa. Fomos nós Ocidente( mais concretamente França e Inglaterra) que dividimos o médio-oriente a nosso belo prazer aquando da queda do império otomano. Esta veia radical que tem vindo a proliferar no Médio Oriente é em parte responsabilidade nossa, pois historicamente apoiamos vários líderes radicais e sanguinários naquela região.Dos anos 50 para a frente especialmente, o mundo Ocidental apoiou líderes radicais e opressivos no Médio Oriente a nosso belo prazer, tendo virado costas aos reais interesses do povo pobre e inculto que subsiste na maior parte destes países. Pusemos interesses financeiros por causa do petróleo acima de tudo e agora estamos a pagar por isso.

Temos que combater este vaga fudamentalista com medidas eficazes de apoio ao combate à pobreza, no combate às assimetrias sociais existentes nestes países, no combate ao papel que as líderes religiosos mais radicais têm cada vez mais na formação dos jovens árabes.É óbvio que isto não se combate de um dia para o outro,e que isto podem parecer chavões, mas o caminho tem que passar por aqui.

Os povos da maior parte dos países árabes são pobres ou miserávelmente pobres.Como se isso não bastasse vivem sob regimes fechados, onde famílias reais vivem vidas de luxo graças aos petrodoláres enquanto o povo se alimenta no ópio da religião.As assimetrias sociais são cada vez maiores nestes países muito por conta dos líderes sanguinários e opressivos que têm só contribuem para que um povo que não conhece outra realidade acabe por deixar que os líderes mais radicais lhes manipulem os cérebros com as suas cassetes fundamentalistas.Isto só será combatido se dermos apoio aos moderados, que não são felizmente assim tão poucos. Ao andarmos a fazer críticas generalistas sob os islâmicos estamos a virar as costas aos moderados islâmicos que são a única esperança e solução para a resolução deste problema.

Existem excepções no Médio Oriente para os quais deveriamos olhar com bons olhos. No Qatar temos um país desenvolvido, onde as mulheres não são discriminadas, onde existe mais liberdade de expressão que na maior parte dos países do médio oriente e onde o povo não é pobre. Porque é que o Ocidente não olha para o Qatar como um exemplo de um país árabe que aos poucos se está a abrir?Se passarmos a dar mais mérito a casos de sucesso como o Qatar em vez do destaque que damos aos fundamentalistas que minam países como a Síria, o Irão ou a Arábia Saudita, estaremos a contribuir para o combate contra a corrente islâmica radical.Sempre que incitamos ao ódio islâmico(e aqui não estou a dizer que o texto o fizesse)estamos a dar uma vitória aos fundamentalistas islâmicos.O Ocidente tem sim que reiterar os seus valores, no qual a liberdade de expressão é um dos seus pilares base, mas temos que ser coerentes no modo como queremos que a situação do Médio Oriente se resolva.

Grande abraço deste teu amigo ;)

 

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