Têxteis, que futuro?
Desde o início da crise dos têxteis portugueses que se declara a necessidade de repensar o futuro do sector. Já nessa época era conhecida a inevitabilidade da abertura total de dos mercados, que alertava já para a necessidade de reconverter o sector noutro tipo de actividade mais promissora. Era então crucial que as regiões que viviam quase exclusivamente dedicadas ao têxtil e às confecções, mudassem de orientação.O actual estado do sector atesta nitidamente que tal não sucedeu. A cedência à pressão imediatista e da distribuição cega de subsídios, tomou o espaço da visão estratégica, da seriedade política e do rigor governativo.
Claramente faltou audácia para recusar a manutenção dissimulada de empresas, reinou a atribuição de fundos ditos de modernização e abriram-se as portas à inscrição nos subsídios de desemprego, por período superior ao considerado regular.
Os diferentes governos possibilitaram assim a subsistência do caos, concedendo dinheiro para silenciar e enganar a crise. Perante um futuro que sabiam ter consequências certas, resumiram-se a aprazar um problema, que agora apresenta uma resolução bem mais complexa.
No concelho de Águeda, em particular na Freguesia de Valongo do Vouga, a crise têxtil originou a perda de muitas centenas de postos de trabalho. Não foram apenas postos de trabalho que se perderam, foram famílias que perderam todo o seu rendimento, que se viram impedidas de poder cumprir as suas obrigações, que deixaram de poder dar aos seus filhos o que legitimamente sempre sonharam poder dar.
Com a liberalização dos têxteis chineses, a preocupação de Portugal deve assentar, não na forma de estancar a entrada dos têxteis chineses no mercado, mas no sentido de ter produtos e negócios têxteis que sejam adequados à nossa realidade de País e nos coloquem ao nível daqueles que existem nos países desenvolvidos. A realidade portuguesa deve manter um posicionamento de mercado de domínio dos têxteis de elevada incorporação tecnológica, dos têxteis da alta moda e dos têxteis técnicos. Todavia, este posicionamento requer uma readaptação da nossa indústria e negócio têxtil.
Ou se requalifica totalmente o sector têxtil agora, ou num futuro próximo nada haverá para requalificar. A nível Europeu a reposição efectiva de barreiras alfandegárias poderá ser a única via. É tempo de nos abstrairmos do politicamente correcto e o comodismo para que não abramos ainda mais a porta a uma crise social sem precedentes, capaz de despertar revoltas que os europeus consideravam não mais se poderem repetir.
Paulo Pereira
ín Litoral Centro - Nº1, 15 de Março de 2006
1 Comments:
Excelente post, concordo plenamente!
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