sexta-feira, janeiro 27, 2006

A Ler


A propósito deste texto da Constança Cunha e Sá:
Não me parece que a direita tenha rejubilado com a eleição de Cavaco. A direita, realista, limitou-se a ficar contente q.b. com a eleição de Cavaco, pois esta significou mais um passo no longo caminho de afastamento da esquerda. Ninguém na direita está à espera que, de um dia para o outro, o país mude e surjam candidatos eleitos capazes de entusiasmar os ortodoxos. Cavaco era o que de mais aproximado da direita havia para concorrer (com hipóteses de ganhar) nestas eleições. E isso foi o bastante para que tivesse o seu apoio. O caminho faz-se passo a passo. Da esquerda para a direita é inevitável uma paragem ao centro. Vamos ver é por quanto tempo.Tal como José Sócrates, Cavaco está ao centro. Procura distância das ideologias - que, aliás, despreza – e joga pelo seguro, afirmando-se em tom solene pelo “desenvolvimento”, pela “qualificação das pessoas”, contra “a estagnação” e contra “o desemprego”, como se houvesse alguém a defender o contrário. Mas passar a ouvir estas frivolidades em vez da constante evocação de fantasmas do passado é já um belo avanço.Com o bloco central a mandar, não há duvida que a direita tem espaço para crescer. Sempre que a esquerda sobe ao poder, tirá-la de lá torna-se a principal preocupação do eleitorado potencialmente de direita. Como tem sido o centro (PSD e quejandos) a ter melhores hipóteses de ganhar à esquerda, tem sido no centro que esse eleitorado tem votado de forma mais expressiva. Agora, com a social-democracia de Sócrates e Cavaco em alta, a história pode ser diferente. Já não haverá tanto a preocupação de apostar em males menores, uma vez que os males menores já lá estão. Haverá, pois, alguma calma para poder votar a favor, naquilo que de facto se quer.Ainda faltam muitos anos para que alguém de direita - intrinsecamente de direita - ganhe umas eleições neste país. A direita é minoritária. (Mas está certa). O seu objectivo, para já, deve ser crescer. Crescer de modo sustentado até ter peso suficiente para, pelo menos, influenciar o rumo das principais políticas. O ponto de partida é muito baixo. Difícil será não subir.É obvio que esse crescimento não pode ser tentado (apenas) à margem dos partidos. Isso é uma fantasia. O problema é que entre as prioridades da maioria das pessoas de direita não constam os partidos. A direita gosta de ganhar dinheiro e por isso dedica-se a outras empreitadas. Mas se as suas ideias crescerem, crescerá proporcionalmente o número daqueles com disponibilidade para a causa pública. E entretanto, enquanto esses não aparecem em quantidade suficiente para tomar os partidos de assalto, sempre se vai podendo fazer qualquer coisa a partir de fora.O liberalismo mitigado deve ser a aposta da direita para os próximos anos. Em Portugal, país onde o Estado continua a ter uma presença asfixiante em quase todas as áreas, não é ideologicamente complicado a um direitista ser liberal. Mesmo os mais puros conservadores se tornam de bom grado liberais. Há muito pouco para preservar. Há muito para liberalizar. Não se trata de querer privatizar tudo e mais alguma coisa, de acabar com a segurança social e com o sistema nacional de saúde, ou de outros niilismos megalómanos. Trata-se, tão-somente, de repor algum bom senso na coisa pública. Depois de alcançado esse objectivo, depois de reduzido o Estado às suas tarefas fundamentais, depois de as políticas essencialmente de direita passarem a ser prática comum, depois de tudo isso, poderemos, então, voltar a ser conservadores. Conservadores-liberais, bem entendido.

1 Comments:

At 1:31 da manhã, Blogger João Salviano said...

este tipo de opiniões só revelam uma azia atroz de quem quer dividir a direita! Em Portugal nem a direita, nem a esquerda ganham eleições. Para se governar em Portugal há-que ter um equilibrio entre centro-direita e direita, e o mesmo se aplica à esquerda! Dizer que as políticas de direita quando implementadas farão com que os portugueses se sintam confortáveis em votar à direita é gozar com a direita, porque para implementar essas políticas, primeiro a direita tem que já estar no governo, e segundo, o processo de implementação dessas políticas é tudo menos popular!
Se o CDS quer ganhar eleições tem que voltar para o centro, para o centro-direita, mantendo as suas culturas liberais e conservadores, é certo, mas devolvendo ao seu vocabulário a ideologia democrata-cristã, pondo as pessoas e as questões sociais no centro do seu discurso e preocupações, e promovendo um modelo económico que promova o personalismo e garanta a todos a oportunidade de prosperar.

 

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