Desemprego de baixa qualificação
Soubemos recentemente que o desemprego no distrito de Aveiro voltou a subir 2%. Sabemos que o PEC daltónico aprovado pelo Governo socialista contraria esta versão nos próximos anos, e perguntam – apreensivos – os aveirenses o que esperar do futuro.O desemprego em Portugal deixou de ser um problema conjuntural para ser um factor estrutural da nossa economia. Escolhemos pertencer ao pelotão do desenvolvimento, escolhemos competir com as economias geradoras de valor pela inovação e pela competitividade, e isso tem implicações óbvias na mutação dos factores competitivos que ditam o sucesso ou insucesso dos nossos agentes económicos.
A famigerada qualificação dos recursos humanos é recorrentemente apontada como solução para que a economia possa dar o salto definitivo para a linha da frente do desenvolvimento. Sendo esse o caminho, importa reflectir sobre outras questões de resolução mais difícil. Até que ponto é que é realista pensar que podemos transformar o José Antunes, pescador da Murtosa, num técnico de redes altamente qualificado?
O backbone social afectado por esta mudança implica pensar mais além, e saber dar soluções a quem aparentemente não as tem. Sabendo do surrealismo que tal proposta acarreta, exige-se respostas mais do que obvias para problemas pouco óbvios. A geração de mais valor acrescentado na economia portuguesa não passa por sermos todos técnicos de redes ou engenheiros de software.
A solução passa por dois vectores, a primeira é naturalmente o mercado: A democratização do ensino gerou nas novas gerações mais dinamismo e uma orientação clara para formação avançada em áreas criticas para o desenvolvimento e criação de empresas mais competitivas.
O segundo vector é a requalificação, não podemos pedir ao José Antunes que seja um técnico de redes de ponta, mas se existir um management qualificado e orientado para a criação de valor, pode levar à transformação das áreas de negocio sem dimensão de forma a competirem no mercado internacional.
A empresa de pesca onde trabalha o José Antunes, pode deixar de ir vender para a lota da Bica (Murtosa) e passar a cooperar estrategicamente com parceiros locais de forma a ganhar dimensão internacional diversificando as actividades produtivas (case-study espanhol), que levem o José Antunes a deixar de meramente recolher as amarras que trazem o peixe, mas requalifica-lo de forma a que transforme todo o seu know-how em mais do que uma tarefa mecanicista geradora de pouco valor.
A um distrito como Aveiro, que é díspar nas qualificações e nas áreas de actividade, importa adequar soluções para aqueles que estão na rota da tecnologia e da inovação e para aqueles que podem vir a ser os mais competitivos a nível mundial, não tendo de ser certamente peritos em software e telecomunicações. O desemprego de baixa qualificações resolve-se com uma requalificação realista e integracionista de todos aqueles que só não fazem melhor porque parece o país ditar-lhes uma morte anunciada.
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