segunda-feira, janeiro 30, 2006

Um recorte..

Será útil ter uma direita liberal?

Acompanhei a campanha eleitoral para a Presidência da República desde o arranque das candidaturas. Fui vendo como o PS deixou cair as candidaturas com mais probabilidade de sucesso. E vi também o pavor do CDS em apresentar uma candidatura própria. De novo o receio de desapontar uma parte dos seus eleitores que queriam votar em Cavaco logo na primeira volta, como aliás fizeram.

Apesar da crise evidente, nenhum dos candidatos, nem o menos à esquerda, defendeu alterar a forma como nos organizamos colectivamente e as prioridades que defendemos.

Não houve quem trocasse votos da imobilidade por qualquer risco, mesmo pequeno, de assustar eleitores propondo-se patrocinar mudanças. Neste aspecto a campanha da esquerda foi muito eficaz, pois imobilizou qualquer desejo, mesmo que ténue, de Cavaco tentar quebrar alguma barreira. Apesar da crise estar identificada como sendo estrutural, com o que isso significa de riscos de desemprego e de ausência de perspectivas de emprego para os mais jovens, ninguém se arriscou a candidatar-se com uma proposta mais ousada. Teria sido possível?

Os especialistas das sondagens eleitorais dizem que Paulo Portas teria tido 7% ou 8% e forçado uma segunda volta, obrigando Cavaco a ter preocupações, e respostas, à sua direita. Aliás, mesmo sem candidatura própria, parece que 40% do eleitorado firme do CDS, 2% de um total de 5%, terão votado Alegre. Se tivessem sido mais, teria havido segunda volta. Uma candidatura liberal teria influenciado quer o posicionamento de Cavaco quer a criação das expectativas face às quais se decidirá a sua reeleição e a sua actuação na Presidência. E teria permitido a expressão das correntes de opinião necessárias à mudança no rumo da governação.

Assim, o que acontecerá nestes próximos três anos sem eleições? Fine-tuning do ruinoso sistema existente; crescimento insustentável dos impostos e pequenas alterações nas despesas cada vez mais concentradas em salários e pensões; e tributação de tudo o que já existe, matando por asfixia e taxa zero para atrair investimento directo estrangeiro, mesmo que transitório e de pouco valor acrescentado, e alguns investimentos nacionais de maior dimensão.

Do lado patronal, a incapacidade de estabelecer uma plataforma de acção e de reivindicação de condições minimamente favoráveis ao lançamento de novas actividades e à reconversão muito rápida das actividades crescentemente desactualizadas e do lado sindical, pese embora a diminuição acentuada da representatividade no sector produtivo, continuará a política cega de defesa do statu quo do sector público.

Caem assim grandes responsabilidades sobre o CDS e sobre o que exista de mais liberal e menos social-democrata dentro do PSD. Afinal, o problema de Portugal é sobretudo político e radica na incapacidade de as forças políticas existentes regenerarem o sistema e o País. C

Pedro Ferraz da Costa
Empresário

DN 2006-01-30

[via Neo-Liberalismo]

1 Comments:

At 7:07 da manhã, Blogger Filipe Matias Santos said...

Admito que o CDS tem responsabilidades pela inexistência de uma candidatura à Direita, que represente os mais liberais.

Tenho, todavia, as maiores dúvidas de que o candidato do CDS, a existir, fizesse o discurso neo-liberal de que Ferraz da Costa fala. Iria Paulo Portas ser um defensor do liberalismo? Quem o seria?

Adicionalmente, com a 2ª volta aumentarião exponencialmente as hipóteses de Alegra ganhar. Ora, sabemos que Alegre está nos antipudas do liberalismo.

Com efeito, se Alegre numa segunda volta fizesse tremer Cavaco, Ferraz da Costa atribuiria responsabilidades ao CDS por ter colocado em perigo a hipótese de termos um PR, ao menos, liberal q.b., i.e., Cavaco Silva.

Se Alegre vencesse a responsabilidade de termos um Presidente defensor dos "direitos adquiridos" seria, em grande medida, do CDS.

Como diz o povo, "preso por ter cão e por não ter"...

 

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