quinta-feira, fevereiro 09, 2006

IKEA Vs. Moviflor?

"IKEA Vs. Moviflor?


No momento de crise económica que o país atravesse muito se tem falado da necessidade de conseguir captar investimento estrangeiro. Da criação da API, presidida agora por Basílio Horta, até à referência de Cavaco Silva sobre a necessidade de termos um Secretário de Estado para o Investimento Estrangeiro, muito se tem dito e escrito sobre este tema.

Por isso, os investimentos estrangeiros que o IKEA e outras empresas decidiram realizar em Portugal foram apresentados pelo Governo como uma vitória nacional.

Não quero, aqui, negar o enorme papel que o investimento estrangeiro, a par do turismo, poderão desempenhar na retoma económica do país. Mas, não poderei deixar chamar a atenção para as desigualdades envolvidas por estes investimento e para os efeitos perniciosos que os mesmos acarretam.

Com efeito, sabemos que estes investimentos estrangeiros, num mundo de concorrência global, são atraídos designadamente por incentivos fiscais. Assim, certamente que o Governo Portugal concedeu alguns benefícios àquelas empresas para que as mesmas optassem por investir em Portugal.

Significa isto que a sueca IKEA muito provavelmente irá, nos próximos anos, pagar menos impostos que a portuguesa Moviflor, sua concorrente na produção de mobiliário. Ora, esta relação de concorrência desleal só pode agigantar ainda mais a multinacional IKEA face à pequena Moviflor.

Assim, se amanhã a Moviflor resolver despedir funcionários, ou mesmo fechar portas e, depois de amanhã, o IKEA decidir mudar as suas instalações para um qualquer país do leste europeu, de pouco servirá ao país gritar contra o desemprego. Afinal de contas, quem são os culpados?

Tudo o que foi dito não fere em nada o princípio de que a atracção de investimento estrangeiro é benéfica ao país. E, temos sempre de ter presente que não é possível exigir que as empresas que decidam investir em Portugal se fixem no nosso país para sempre. No entanto, uma adequada política fiscal passaria necessariamente pela baixa dos impostos para todas as empresas (sejam estas investidores estrangeiros e nacionais), e não através da concessão de benefícios a la carte, com excepção de sectores verdadeiramente estratégicos e inovadores em Portugal (como a Auto-Europa).

Só uma forte diminuição da pressão fiscal sobre todas as empresas para níveis próximos dos aplicados nos países de leste permitirá ao país atrair investimento estrangeiro sem, com isso, ferir de morte empresas nacionais."

Filipe de Almeida Matias Santos

in Diário de Aveiro 2006-02-09

3 Comments:

At 12:08 da tarde, Blogger David Martins said...

É a diferença entre o Liberalismo e a palhaçada de socialismo (liberal?) que este governo tem.

É obvio que ninguém tem nada contra os investimnentos do IKEA mas também é obvio que qualquer empresário português tem legitimidade para perguntar:
"Então e eu, não sou também filho de Deus?"

O que é nacional é (mesmo) bom, desde que tenha as mesmas vantagens dos estrangeiros.

 
At 12:10 da tarde, Blogger David Martins said...

PS: Não ha empresários de 1ª e de 2ª

 
At 12:11 da tarde, Blogger David Martins said...

PS 2: Sr. Engº José Socrates, Liberalismo sim, mas para todos!

 

Enviar um comentário

<< Home